quarta-feira, 11 de junho de 2008

No caminho das flores... parte 2

As raízes se sufocavam... Por que as calçadas eram tão pequenas?
Ou eram as árvores que cresciam demais?


No primeiro post deste blog comentei que demorei a ver que as flores são importantes, mas me enganei porque na verdade sempre soube que havia algo errado, só não sabia o que de fato era e nem como resolver. Nasci na origem do capital industrial, no grande ABC paulista, filha de migrantes nordestinos, filha da classe operária que hoje se encontra como classe média, afinal a camada explorada é dividida em níveis e eu pertenço à classe média baixa. Morei boa parte da minha vida em bairros de pobre em ascensão rodeada por favelas em expansão contínua. (A foto lá em cima é onde passei boa parte da vida, observe a paisagem.) Hoje eu diria que nem são mais favelas, porque boa parte não são mais barracos e sim um aglomerado de tijolos e cimento que tomaram conta de todas áreas íngremes das grandes cidades. A favela, portanto não é mais sinônimo de miséria, apesar de ainda existir locais onde a miséria é companheira. Estudei em escolas publicas onde os alunos em sua maioria moravam nestes bairros periféricos e eu nunca vi problema algum nisso, não me sentia diferente deles. Eu sabia que havia algo errado e meu pai nunca precisou dizer porque ele era sindicalista, ninguém precisou dizer nada. Lembro de todas imagens e ações que despertavam estranhamento e descontentamento. Em 1989, eu não sabia do que se tratava, não sabia da inflação, não sabia que houve uma ditadura, não sabia que Collor era direita e Lula estava à esquerda, eu só sabia que algo muito errado aconteceu nas eleições e senti a derrota da esquerda, eu ali sem entender absolutamente nada, sabia que tinha perdido alguma coisa, só não sabia dizer o que era. Em 1992 acompanhei atentamente o impeachment e a ação dos caras pintadas (parte da burguesia e classe trabalhadora, algo errado nisso né?). Mais tarde nas aulas de história e geografia tive subsídios pra entender diversas coisas e mais uma vez meu descontentamento era alimentado. Como os outros alunos não entendiam o que eu entendia? Não percebiam o que eu percebia? As aulas de ciências me agoniavam bastante, assim como os morros verdes que existiam em torno do bairro ficavam a cada dia mais encobertos pelo aglomerado de cimento e tijolos. As ruas não tinham árvores, quando tinham árvores, estas eram feias e suas raízes quebravam o calçamento. Tudo era tão cinza, mas os prédios eram coloridos e os carros também. A molecada na rua dava um certo colorido. Senti que ficar ali só olhando não era bom e fui buscar o que fazer além da escola e das brincadeiras na rua. Fiz diversos cursos, queria fazer todos e fiz praticamente todos que eram oferecidos gratuitamente pela prefeitura e outros que meu pai teve condição de pagar. Eu era mais uma ali seguindo a corrente, temia o futuro, era preciso saber de tudo um pouco para que no futuro fosse mais fácil ser empregada e ter uma vidinha boa. Mesmo seguindo a lógica lá dentro de mim o quebra cabeça ia sendo montado, a cada leitura, a cada critica construida sobre uma noticia no jornal ou um fato presenciado. Tudo passou a incomodar-me principalmente a ausência de flores...

2 comentários:

Leo Luz disse...

Flores... elas são parte do cotidiano que nós temos, ou deveria fazer parte! Não cultivamos, não plantamos, não colhemos nada que a vida nos ofereçe, será que estamos aprendendo errado?

Eu sei que as sakuras ainda resistem antes do inverno!

bjjs

Unknown disse...

Reparou que no geral todos temos uma parte de "nossa história" em comum? Sim, minha querida não estamos sozinhos neste mundão.;)
Eu, tu, eles e todos nós indignados no fim nos encontraremos e faremos revolução, já estamos fazendo, não!?